Buy Now, Pay Later: Riscos e Cuidados Que Você Precisa Saber
- Antonio Carlos Faustino

- 6 de ago.
- 9 min de leitura
Comprar agora e pagar depois. Para muita gente, soa como música. Afinal, quem nunca quis parcelar aquela compra dos sonhos sem sentir o baque na fatura do cartão? Mas, como enfim sabemos, nem tudo o que parece fácil é realmente simples. Os modelos “Buy Now, Pay Later” (BNPL) vêm crescendo rápido nas Américas e transformando o jeito de consumir da sociedade moderna. No Bom dia, América!, o objetivo é justamente lançar um olhar mais atento sobre tendências que mudam nossa vida cotidiana. E aqui, precisamos ir além das promessas.
O avanço do BNPL no continente americano

Para entender por que estamos falando tanto desse tema, vale dar uma olhada nos números. O Federal Reserve de Richmond mostrou que, entre 2019 e 2021, o número de operações BNPL nos EUA saltou de 16,8 milhões para 180 milhões. Em termos de valores, isso representou um pulo de US$ 2 bilhões para US$ 24,2 bilhões. O setor de vestuário e beleza lidera, mas o serviço já está em diversos segmentos – de eletrônicos a serviços digitais.
Em 2023, dois terços dos consumidores norte-americanos receberam ofertas desse tipo de pagamento. Entre 14% a 25% usaram ao menos uma vez. Se olharmos para toda a população adulta, são milhões de pessoas considerando essa opção no dia a dia. E, claro, não é diferente em outros países das Américas, inclusive no Brasil.

Por que estamos recorrendo ao 'compre agora, pague depois'?
No fundo, a proposta do BNPL é simples: dar mais acesso ao consumo. Ele permite adquirir produtos mesmo sem saldo suficiente na hora. E esse detalhe pega muita gente. O professor Ed DeHaan, da Stanford, revelou em sua pesquisa que, só em 2021, cada usuário médio nos EUA pagou cerca de US$ 500 por trimestre, em aproximadamente doze prestações diferentes usando o BNPL.
Trata-se de uma resposta prática para a falta de liquidez. Uma geladeira quebra e não há reserva? BNPL. Um tênis para o filho, urgente para a escola? BNPL. Parece a solução perfeita, mas esse caminho merece atenção – especialmente de quem já enfrenta orçamentos apertados.
Como o buy now, pay later funciona na prática
Quando você faz uma compra com BNPL, está, de certa forma, assumindo um pequeno empréstimo. A loja recebe o valor total, enquanto você paga em partes, normalmente sem juros, desde que cumpra o prazo. São parcelas fixas, geralmente quinzenais ou mensais, e os detalhes variam.
Simplicidade: Geralmente, basta escolher BNPL na loja online ou física, informar alguns dados e pronto: compra aprovada em segundos.
Parcelamento: O valor é dividido em 3, 4, ou até mais vezes, com raras exigências de análise de crédito.
Sem juros (na teoria): Desde que pagos no prazo, muitos prometem não cobrar taxas extras.
Alguns fornecedores permitem até que você escolha as datas de pagamento, ajustando ao calendário do seu salário ou recebimentos. Isso torna tudo... tentador demais, talvez.
Quem são os principais fornecedores e como atuam
O mercado de BNPL é liderado por grandes empresas de tecnologia financeira, que atuam globalmente. No Brasil, diversas fintechs já oferecem opções durante o checkout de grandes varejistas e pequenos empreendimentos. Fora daqui, gigantes globais dominam. Esses fornecedores normalmente:
Firmam parcerias com lojas e marketplaces para já integrar o serviço direto no site.
Realizam análise de risco menos rigorosa que bancos tradicionais, facilitando o acesso.
Atrativos como “aprovado na hora” e “sem juros” são rotineiros.
Oferecem aplicativos para controle de pagamentos e notificações de vencimento.
O modelo atrai tanto comerciantes, que vendem mais, quanto consumidores, que enxergam flexibilidade. Mas, muitas vezes, faltam informações claras sobre as consequências do não cumprimento dos prazos.
Por que o BNPL seduz (e preocupa) tanta gente?
Psicologicamente, comprar e não sentir imediatamente aquele impacto financeiro tende a aliviar o peso da decisão. O psicólogo Mark Travers explica que o BNPL acaba enganando nosso cérebro, pois o efeito emocional da compra fica mais suave – gastamos e só depois pensamos nas parcelas.
“É fácil perder o controle quando não sentimos na pele o gasto na hora.”
Essa condição abre caminho para decisões rápidas e, por vezes, arrependidas. O formato parece “livre de danos”, mas o risco está à espreita. E não é só impressão: os números comprovam.
Vantagens aparentes do buy now, pay later
Naturalmente, há motivos para o sucesso:
Acesso ao consumo: Ideal para emergências ou necessidades imediatas sem fundos disponíveis.
Rapidez no processo de compra: Muitas vezes mais simples que um cartão ou empréstimo convencional.
Parcelamento flexível: Mais controle sobre o fluxo de caixa familiar, pelo menos na teoria.
Possibilidade de evitar juros altos: Se o consumidor paga em dia, não paga juros – diferente dos cartões, em geral.
Para muitos, especialmente quem não pode ou não deseja usar cartões de crédito, essa pode ser a porta de acesso a bens e serviços pouco antes inalcançáveis.

Os riscos escondidos do BNPL
O problema começa quando a promessa de facilidade encontra a realidade do bolso. Segundo uma pesquisa da Bankrate, 49% dos adultos nos EUA que usaram BNPL enfrentaram ao menos um problema. Os mais comuns:
Gasto além do planejado (24%)
Atraso nos pagamentos (16%)
Arrependimento (15%)
A pesquisa também destaca: a geração Z é a mais vulnerável, com 66% relatando ao menos um desafio nesse tipo de serviço. E quem já tem problemas financeiros sofre impacto ainda maior, como mostrou o Federal Reserve Bank de Kansas City.
Taxas e dívidas invisíveis
O BNPL costuma ser apresentado como isento de taxas e juros. Só que, na prática, basta um atraso e começam as cobranças – muitas vezes, mais pesadas que as do cartão convencional. A pesquisa liderada pelo professor Ed DeHaan, da Stanford, revelou que os adeptos do BNPL pagam em média:
4% mais taxas de cheque especial
2,3% mais em taxas de atraso no cartão de crédito
1,1% a mais em juros do cartão
Pode parecer pouco, mas, em volume, esses percentuais viram um buraco constante no orçamento. E, como boa parte dos usuários tem perfis financeiramente vulneráveis, essas taxas prejudicam ainda mais quem menos pode pagar.
A tentação de consumir além do limite
Com as barreiras reduzidas e promessa de valores baixos nas parcelas, há um estímulo involuntário para comprar mais, mesmo quando não se precisa tanto. O estudo do psicólogo Mark Travers aponta que nosso cérebro “sente menos” o gasto, o que favorece a atitude impulsiva na hora da compra.
É como se as prestações se acumulassem de maneira invisível. Ao final, dezenas de pequenas parcelas se somam e pesam mais do que imaginávamos.
Histórias reais: experiências negativas com o BNPL
Para “humanizar” um pouco esses alertas, veja casos que ouvimos de leitores do Bom dia, América! que quiseram compartilhar seus relatos.
Exemplo 1: O caso da geladeira parcelada
Luciana trabalha como caixa em uma farmácia, no interior de Minas Gerais. Quando a geladeira quebrou, optou por BNPL para não ficar sem refrigerar alimentos. As três primeiras parcelas foram pagas sem problemas. Porém, um atraso no salário fez com que perdesse o prazo da quarta parcela.
“A cobrança veio mais de R$ 80 só de multa. Depois disso, virou uma bola de neve…”
Foi preciso recorrer à família para pagar a dívida acumulada e regularizar as finanças. Luciana diz que, se soubesse antes o tamanho da multa, teria feito outra escolha.
Exemplo 2: Compras para o filho, prejuízo na conta
Eduardo, servidor público, achou que fazia um bom negócio ao dividir em quatro vezes os materiais escolares do filho. Ele foi seduzido pela aprovação instantânea. Com outras contas também parceladas, rapidamente perdeu o controle das datas de vencimento.
No segundo mês, atrasou uma parcela. Recebeu notificação de negativação e ainda teve descontos no futuro limite de crédito bancário. Resultado: arrependimento e lição sobre a importância de calcular antes de comprar.

Ana, estudante universitária, parcelou pequenas compras online por BNPL. Quis facilitar a vida e evitar o cartão. Em seis meses, acumulou mais de 10 prestações simultâneas. O valor individual era baixo, mas juntos ultrapassaram o salário de estagiária. Ela precisou pedir empréstimo para quitar tudo.
“A soma das parcelas parecia nada. De repente, vi que estava comprometida por meses.”
Histórias como essas ilustram o alerta que trazemos no Bom dia, América!: pequenas facilidades podem se tornar grandes dores de cabeça se não houver atenção.
Como evitar armadilhas: dicas práticas para o uso do BNPL
É possível aproveitar a praticidade do BNPL sem cair no endividamento? Pode ser, desde que haja planejamento e cautela. Veja alguns cuidados fundamentais:
Leia todo o contrato: Sabemos que dá preguiça, mas as taxas de atraso costumam estar nas letras miúdas. Descubra quanto custa um deslize.
Planeje a longo prazo: Some todas as prestações já assumidas antes de pedir nova compra. Veja se cabem de fato no seu orçamento mensal.
Use o BNPL só para o necessário: Reserve para emergências e itens indispensáveis. Não faça do parcelamento um hábito recorrente.
Ative alertas e lembretes: Programe avisos de vencimento no calendário ou aplicativos, para não correr risco de esquecer um pagamento.
Cuidado com múltiplas compras: O risco aumenta quando há vários parcelamentos ativos ao mesmo tempo. Uma pequena parcela, quando somada a outras, vira uma dívida volumosa.
Calcule o impacto: Faça contas, anote no papel ou digital. Visualizar as parcelas somadas pode assustar – e evitar deslizes.

calculadora sendo usada para cálculo de parcelas Quando não vale a pena usar o BNPL?
O sistema se propõe a ajudar em situações específicas, mas nem sempre faz sentido. Talvez o BNPL não seja a escolha ideal quando:
Você já compromete boa parte do salário com outras contas fixas;
Não tem previsão exata de quando terá dinheiro para quitar todas as parcelas;
Vive esquecendo datas de pagamento e não confia no próprio controle;
Está recorrendo ao modelo por impulso, não por necessidade real.
A tentação existe, o marketing é forte, e a sociedade parece querer que todo consumo seja imediato. Por isso, um pouco de distanciamento crítico é fundamental.
O panorama atual e futuro do buy now, pay later
Enquanto consumidores buscam maior flexibilidade, o BNPL se populariza de modo acelerado em toda a América. O Bom dia, América! acompanha de perto as mudanças: bancos, fintechs, lojistas e órgãos regulatórios debatem limites, transparência e regras mais justas para os serviços. Já se discute, inclusive, propostas de maior regulação para proteger o consumidor.
Nesse cenário, educação financeira passa a ser um diferencial importante. Quem entende os riscos e planeja, faz escolhas mais seguras e inteligentes. O BNPL pode ser uma solução sim, mas, para quem não domina a própria rotina financeira, também pode virar um abismo silencioso.
“A facilidade de hoje pode ser a dívida que te persegue amanhã.”
Por isso, o convite do Bom dia, América! é para que você continue conosco, se mantenha atualizado sobre tendências de consumo e fortaleça sua autonomia financeira. O BNPL talvez seja só uma moda passageira, mas as escolhas que você faz hoje podem acompanhar sua vida por anos.
Conclusão: escolha bem, informe-se sempre
O Buy Now, Pay Later chegou para ficar. Ele pode ser útil em situações pontuais, desde que seja utilizado com responsabilidade e atenção total aos detalhes.
Antes de aceitar aquela proposta irresistível em poucos cliques, leia o contrato, reveja seu orçamento, planeje-se. Converse com pessoas, pesquise, compartilhe experiências aqui no Bom dia, América!.
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Perguntas frequentes sobre buy now, pay later (BNPL)
O que é Buy Now, Pay Later?
Buy Now, Pay Later (BNPL) é um modelo que permite ao consumidor comprar imediatamente e pagar o valor em parcelas, normalmente sem juros, desde que os pagamentos sejam feitos dentro do prazo estabelecido. É uma alternativa aos tradicionais cartões de crédito ou empréstimos diretos.
Como funciona o Buy Now, Pay Later?
O BNPL funciona em parceria com lojas e fintechs. O cliente escolhe essa opção durante a compra, informa alguns dados, escolhe o número de parcelas e, caso seja aprovado, leva o produto imediatamente. Os pagamentos são realizados em datas futuras, geralmente fixas, e o valor total pode ser dividido em três, quatro ou mais vezes.
Quais os riscos do Buy Now, Pay Later?
Os principais riscos são o acúmulo de dívidas por múltiplas compras, cobrança de taxas e multas em caso de atraso, e facilidade de se endividar sem perceber. Muitos consumidores subestimam o impacto dessas pequenas parcelas, o que pode comprometer o orçamento mensal e dificultar a quitação futura.
Vale a pena usar Buy Now, Pay Later?
Depende do seu controle financeiro. O BNPL pode ser interessante em emergências ou quando usado para necessidades reais, desde que haja planejamento. Não é indicado para compras por impulso ou quando se perde o controle das datas e valores das parcelas. Cautela e informação são indispensáveis para evitar problemas.
Como evitar dívidas com Buy Now, Pay Later?
Leia atentamente todos os termos do serviço, planeje seu orçamento considerando todas as parcelas ativas, use a modalidade apenas para necessidades essenciais, ative alertas de vencimento e evite acumular muitas compras parceladas ao mesmo tempo. Se perceber que está perdendo o controle, busque reorganizar suas finanças antes de assumir novas dívidas.




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