Movimento No Kings: a nova onda de resistência democrática nos Estados Unidos
- Guilherme Pereira Tavares

- 23 de out.
- 5 min de leitura
Atualizado: 24 de out.

A origem e expansão do movimento No Kings
Em 2025, os Estados Unidos assistiram ao surgimento do movimento No Kings, um fenômeno político-social que rapidamente se transformou em uma das maiores mobilizações cívicas da história recente do país. O nome — “Sem Reis” — expressa uma ideia fundamental: a rejeição de qualquer forma de poder concentrado, autoritário ou acima da lei. Inspirado nos princípios fundadores da república americana, o movimento nasceu como resposta direta ao que seus organizadores descrevem como a “tendência monárquica” da administração de Donald Trump em seu segundo mandato.
Os primeiros sinais de organização surgiram em abril de 2025, em fóruns digitais e redes progressistas como Indivisible e ACLU (American Civil Liberties Union). A mobilização nacional ganhou corpo em 14 de junho de 2025, com mais de 2.100 protestos simultâneos em todos os 50 estados americanos — um feito inédito desde as marchas pelos direitos civis.
O movimento No Kings foi impulsionado por uma mensagem simples e poderosa: “In America, we don’t do kings.” (“Nos Estados Unidos, não temos reis.”). Essa frase tornou-se o lema de uma geração que busca reafirmar o princípio republicano de que ninguém está acima da lei — nem presidentes, nem bilionários, nem corporações.
Democracia em risco e as motivações do movimento No Kings
As motivações que alimentam o movimento No Kings vão além da mera oposição a um governo. Elas refletem um sentimento coletivo de alarme em relação ao futuro da democracia americana. Segundo seus líderes, há uma crescente concentração de poder executivo, acompanhada de uma erosão das instituições independentes e uma militarização das cidades por forças federais.
Entre os fatores que catalisaram o movimento estão:
A ampliação dos poderes presidenciais por decretos unilaterais;
O envio de forças federais para conter protestos locais;
Políticas de imigração endurecidas;
O aumento da influência de bilionários e conglomerados de mídia sobre decisões políticas;
A percepção de que o sistema eleitoral e jurídico está sendo instrumentalizado.
O movimento reúne organizações progressistas, sindicatos, comunidades religiosas, grupos estudantis e defensores de direitos civis, criando uma coalizão de mais de 200 entidades. Essa amplitude confere legitimidade e diversidade de pautas, ainda que traga o desafio de alinhar objetivos práticos sob uma bandeira comum.
A estrutura e a força da mobilização
O movimento No Kings foi projetado para ser descentralizado e autônomo. Cada estado possui comitês locais que coordenam manifestações, produzem materiais informativos e organizam assembleias comunitárias. Essa estrutura em rede reflete um novo modelo de resistência política nos EUA: horizontal, digital e cidadã.
A principal ferramenta de articulação é o portal nokingsmovement.com, onde os participantes podem registrar eventos, baixar cartazes e acessar guias de segurança e conduta pacífica. Os organizadores recomendam a cor “Resistance Yellow” (amarelo da resistência) como símbolo visual de unidade.
Os dias de mobilização seguem uma lógica de “ondas nacionais”. A primeira grande manifestação ocorreu em junho; a segunda, em 18 de outubro de 2025, expandiu o alcance internacional, com marchas solidárias em Londres, Paris e São Paulo. A presença global reforçou a mensagem de que a defesa da democracia americana é também uma luta universal.
Símbolos e linguagem do movimento
O movimento No Kings se apoia fortemente no simbolismo histórico dos EUA. As frases “No Thrones. No Crowns. No Kings.” aparecem em cartazes e faixas, evocando a Revolução Americana de 1776. O uso de ícones republicanos e cores vibrantes cria um imaginário coletivo que remete à fundação dos Estados Unidos — quando os colonos rejeitaram a monarquia britânica e proclamaram o governo do povo.
Nos protestos, é comum ver performances artísticas, música e encenações teatrais que satirizam a ideia de “rei”. Essa linguagem cultural e criativa busca comunicar, de maneira acessível, o perigo da centralização do poder e a importância da vigilância democrática.
O impacto político do movimento No Kings
O impacto do movimento No Kings é perceptível em vários níveis. Politicamente, ele pressiona legisladores e governadores a defenderem os princípios constitucionais. Diversos congressistas democratas e independentes declararam apoio formal às manifestações, enquanto representantes republicanos as classificaram como “antipatrióticas”.
Pesquisas recentes mostram que, após a eclosão dos protestos, a confiança pública nas instituições democráticas aumentou 14%, segundo levantamento da Pew Research Center (2025). Além disso, houve um crescimento expressivo no registro de novos eleitores, especialmente entre jovens de 18 a 25 anos, o que pode influenciar o cenário eleitoral de 2026.
Críticas e desafios internos
Como todo movimento de massa, o movimento No Kings enfrenta críticas internas e externas. Parte dos apoiadores aponta a falta de propostas concretas — como projetos de lei ou reformas específicas — que transformem a energia das ruas em mudanças institucionais. Outros alertam para o risco de fragmentação, já que a coalizão abriga desde liberais moderados até ativistas socialistas.
Por outro lado, opositores conservadores acusam o movimento de ser uma “campanha anti-Trump” disfarçada, financiada por grandes doadores e veículos de mídia. Os organizadores rejeitam essa narrativa, afirmando que a causa é “pró-democracia”, e não partidária.
O movimento No Kings e o futuro da democracia americana
O movimento No Kings tornou-se um teste para a vitalidade das instituições democráticas dos Estados Unidos. Ao se posicionar como um freio ao autoritarismo, ele resgata o espírito de resistência cívica que deu origem ao país. Seu sucesso ou fracasso dependerá de sua capacidade de manter coesão, formular propostas claras e resistir à fadiga política que frequentemente atinge movimentos populares.
O desafio agora é transformar indignação em ação política sustentável — nas urnas, nos tribunais e na cultura cívica. A verdadeira vitória do movimento No Kings não está apenas nas ruas lotadas, mas na construção de um futuro onde o poder realmente pertença ao povo.
Vídeo satírico: a resposta “No Kings” de Trump em IA
Durante o auge das manifestações do movimento No Kings, um vídeo viral circulou nas redes sociais, , mostrando uma versão gerada por inteligência artificial do presidente Donald Trump. No conteúdo, Trump aparece pilotando um caça militar, usando uma coroa e “interagindo” de forma exagerada com os manifestantes, em uma clara sátira visual que brinca com a ideia de “rei absoluto”.
Apesar do caráter humorístico e surreal do vídeo, ele gerou ampla repercussão online, sendo compartilhado em fóruns, redes sociais e veículos de mídia, como exemplo de como a tecnologia de IA pode produzir conteúdos polêmicos, satíricos e viralizáveis.
Importante: trata-se de um conteúdo fictício e gerado por IA, sem conexão com eventos reais, e não deve ser interpretado como uma ação efetiva do ex-presidente. O vídeo reflete, sobretudo, a criatividade digital e a cultura de memes em resposta a movimentos políticos.

Conclusão: No Kings — um novo pacto republicano
O movimento No Kings simboliza mais do que um protesto contra um governo. Representa uma reafirmação do contrato social norte-americano — aquele que rejeita tiranias e exalta a responsabilidade cidadã. Em um contexto de polarização e descrença institucional, ele reacende o debate sobre o que significa ser uma república.
Seja nos grandes centros ou nas pequenas cidades, milhões de cidadãos repetem a mesma mensagem: “Nenhum homem é rei. Nenhum poder é absoluto. A democracia é do povo.”O tempo dirá se o movimento No Kings será lembrado como um episódio efêmero ou como o início de uma nova era de engajamento político nos Estados Unidos.
Referências (ABNT)
AMERICAN CIVIL LIBERTIES UNION (ACLU). About the No Kings Movement. Disponível em: https://nokingsmovement.com/pages/about. Acesso em: 23 out. 2025.
ECONOMIC TIMES. No Kings Protest Today: Who Is Organizing and Funding the Nationwide Demonstration. 2025. Disponível em: https://economictimes.indiatimes.com/news/international/us/no-kings-protest-today. Acesso em: 23 out. 2025.
EURONEWS. Millions across all 50 US states march in No Kings protests against Trump. 2025. Disponível em: https://www.euronews.com/2025/10/18/no-kings-protests. Acesso em: 23 out. 2025.
THE GUARDIAN. No Kings Protests Sweep America: What to Expect at Saturday’s Marches. 2025. Disponível em: https://www.theguardian.com/us-news/2025/oct/18/no-kings-protests-events-states. Acesso em: 23 out. 2025.
TIME MAGAZINE. No Kings Organizers Predict Peaceful Gathering Amid Fears of Crackdown. 2025. Disponível em: https://time.com/7326346/no-kings-protest-violence-oct-18/. Acesso em: 23 out. 2025.
VANITY FAIR. “Never Surrender”: No Kings Takes on Special Urgency in Chicago. 2025. Disponível em: https://www.vanityfair.com/news/story/no-kings-chicago-protest. Acesso em: 23 out. 2025.
WIKIPEDIA. No Kings Protests (June 2025). 2025. Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/No_Kings_protests_(June_2025). Acesso em: 23 out. 2025.





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