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Por que as terras raras do Brasil podem se tornar moeda de troca na negociação de tarifas com os EUA

Introdução: Muito além do solo — a geopolítica do subsolo brasileiro


O Brasil é um dos poucos países no mundo com reservas significativas de terras raras, um grupo de 17 elementos químicos fundamentais para a fabricação de tecnologias de ponta, como baterias, turbinas e equipamentos militares. Com a crescente tensão entre Estados Unidos e China — esta última responsável por mais de 80% do refino global desses elementos —, as terras raras do Brasil emergem como um trunfo estratégico. Em meio a disputas tarifárias e reorganizações da cadeia de suprimentos, esse recurso pode ser usado como moeda de troca em negociações comerciais com os EUA.

A importância estratégica das terras raras


As terras raras não são, de fato, tão raras em quantidade, mas sua extração e refino são processos caros e ambientalmente sensíveis. São insumos críticos para:


Dispositivos eletrônicos (smartphones, notebooks, televisores);


Carros elétricos e híbridos (baterias, motores);


Mísseis, radares e satélites (tecnologia de defesa);


Energias renováveis (imãs permanentes de turbinas eólicas).



Em suma, quem controla a oferta de terras raras, controla uma parte significativa da economia tecnológica e militar mundial.


O potencial brasileiro: reservas, qualidade e subaproveitamento


Segundo a Agência Nacional de Mineração (ANM), o Brasil possui cerca de 20 milhões de toneladas de óxidos de terras raras, principalmente nos estados de Goiás, Minas Gerais e Amazonas (ANM, 2023). O problema? Menos de 1% está em exploração ativa. Essa subutilização deve-se a entraves regulatórios, falta de investimentos em tecnologia de refino e ausência de políticas industriais voltadas à verticalização da cadeia.


EUA: dependência crítica e busca por diversificação


A dependência norte-americana das importações de terras raras da China tem sido considerada um risco à segurança nacional. Em 2022, o Departamento de Defesa dos EUA anunciou aportes bilionários para desenvolver fornecedores alternativos. Nesse contexto, o Brasil surge como parceiro natural, geograficamente próximo, diplomática e historicamente alinhado.


Tarifas e retaliações: a nova diplomacia comercial


Com a ascensão de governos protecionistas nos EUA, como os de Donald Trump e, parcialmente, Joe Biden, a política tarifária norte-americana tem oscilado entre protecionismo e pressão comercial. Para o Brasil, isso se traduz em ameaças sobre o aço, o alumínio e até mesmo produtos agrícolas. Em contrapartida, oferecer acesso exclusivo ou preferencial às terras raras brasileiras poderia ser um fator de barganha.


Imagine o seguinte cenário: os EUA mantêm tarifas sobre o aço brasileiro. O Brasil, em resposta, sinaliza a empresas como a Lockheed Martin ou a Tesla que não terá condições de manter acordos de fornecimento de neodímio ou disprósio. O impacto seria imediato nas cadeias de produção americanas, criando um novo ponto de pressão diplomática.


O papel do Brasil nas cadeias de valor ocidentais


Se o Brasil alinhar sua política de mineração com estratégias industriais dos EUA e União Europeia, poderá se tornar um nó logístico chave. Já existem iniciativas binacionais de cooperação em curso, como o projeto da empresa canadense Appia Rare Earths com operação no Ceará. A valorização das terras raras do Brasil pode, inclusive, impulsionar a criação de zonas econômicas especiais com incentivos fiscais e tecnológicos para players ocidentais.


Desafios internos: da regulação à sustentabilidade


Entretanto, o caminho para transformar o Brasil em um player global passa por desafios:


Revisão da legislação ambiental e minerária;


Capacitação técnica em tecnologias de refino;


Monitoramento de comunidades indígenas e quilombolas impactadas;


Fiscalização contra exploração ilegal e tráfico mineral.



Não se trata apenas de extrair, mas de extrair com responsabilidade e retorno estratégico.


Possíveis desdobramentos nas negociações Brasil-EUA


A moeda de troca já começou a circular. Em 2024, durante a Cúpula das Américas, diplomatas brasileiros e norte-americanos discutiram acordos bilaterais envolvendo terras raras. Especula-se que uma das condições dos EUA para reduzir barreiras tarifárias ao agronegócio brasileiro é a garantia de fornecimento estratégico desses elementos até 2035.


Além disso, o Brasil pode exigir transferência de tecnologia, investimentos em infraestrutura e acesso a linhas de crédito do EXIM Bank em troca do fornecimento preferencial de terras raras.


Oportunidades para investidores e empreendedores


Empresas brasileiras que entrarem nessa cadeia terão vantagens competitivas únicas. Desde startups voltadas à prospecção geológica com IA, até grupos de capital privado focados em logística e exportação, há um oceano azul de oportunidades. Cursos, consultorias e plataformas especializadas têm se multiplicado.


Produtos e serviços recomendados:


Livro "Geopolítica das Terras Raras" – Amazon;





Considerações finais


As terras raras do Brasil não são apenas riquezas naturais — são ativos geopolíticos com poder de moldar as relações comerciais do país nas próximas décadas. Utilizá-las como moeda de troca pode não apenas aliviar tarifas, mas também impulsionar o Brasil ao centro das cadeias tecnológicas globais. Cabe ao país transformar esse potencial em soberania e progresso sustentável.


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Referências:

AGÊNCIA NACIONAL DE MINERAÇÃO. Dados sobre terras raras no Brasil. Brasília: ANM, 2023.


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