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LGB vs TQIA+: entenda a divisão e números do movimento no Brasil

Nos últimos anos, temos assistido a uma transformação relevante e, por vezes, polêmica no modo como a sociedade brasileira e de outros países encara a diversidade sexual e de gênero. O movimento LGBTQIA+ tornou-se pauta em empresas, escolas e até ambientes religiosos, algo impensável algumas décadas atrás. No entanto, como toda mudança coloca antigos paradigmas em xeque, novas tensões surgiram dentro dessa própria comunidade. Buscamos neste artigo do Bom dia, América! compreender de forma humanizada, crítica e informativa como se desenha essa divisão entre LGB e TQIA+ e o que dizem os números mais recentes.

Onde começa a divisão: um breve panorama


Para entender o cenário, precisamos lembrar da trajetória do movimento. Por muito tempo, a “sigla” usada era apenas LGB, englobando lésbicas, gays e bissexuais, ou seja, pessoas cuja orientação sexual se distancia da heterossexualidade cisgênera padrão. No entanto, com o tempo, novas vozes e identidades começaram a solicitar reconhecimento: pessoas trans, queer, intersexo, assexuais e outras.

A luta que antes era centrada apenas nas relações de afeto e sexualidade entre pessoas do mesmo sexo, passou a incorporar também as discussões sobre identidade de gênero. Foi a partir daí que a sigla cresceu e, junto dela, o debate interno. Sinal de diversidade? Sim, mas também um ponto de conflito.

“Nem toda inclusão é consenso, nem toda extensão significa união.”

Visibilidade e transformação no continente americano


Vemos, principalmente na América, a expansão do movimento de maneira acelerada. Países como o Brasil, EUA, Argentina, México e Chile testemunharam um aumento na presença de debates LGBTQIA+ na mídia, nas escolas, na arte e, em especial, nas empresas. Vale a menção: em cidades grandes, como São Paulo, Rio de Janeiro, Buenos Aires, Nova York e Cidade do México, campanhas de inclusão e respeito à diversidade se tornaram parte do cotidiano das marcas.

No entanto, o crescimento da sigla, recheada de novas letras e significados, impulsionou conversas difíceis. Há quem questione se a ampliação do guarda-chuva LGBTQIA+ não acabou tornando o movimento confuso e diluindo pautas consideradas originais. Essa tensão está longe de ser apenas um fenômeno brasileiro e, como observamos, é tema recorrente em várias nações-americanas que analisamos no Bom dia, América!.


A confusão das siglas: para quem a luta?


Hoje, quando falamos em LGBTQIA+, referimo-nos a:

  • L – Lésbicas

  • G – Gays

  • B – Bissexuais

  • T – Transgêneros

  • Q – Queer

  • I – Intersexuais

  • A – Assexuais

  • + – Outras identidades e orientações

Ocorre que, conforme escutamos em nossos diálogos e pesquisas para o Bom dia, América!, parte dos mais conservadores do movimento LGB considera essa multiplicidade um problema. Dizem eles que “o movimento perdeu o foco” e que virou “uma sopa de letras”, dificultando a compreensão pública e o avanço de pautas concretas.

Lésbicas, gays e bissexuais vêm manifestando o desejo de se distanciar do grupo TQIA+, afirmando que o debate sobre identidade de gênero desviou o principal objetivo: o respeito à orientação sexual. Em vez de tratar sobre quem se ama, passa-se a discutir quem se é. Para esses grupos, gênero não é algo mutável ou autodeclarado, mas segue o sexo atribuído ao nascimento. Simples assim para quem defende essa visão, embora, obviamente, não seja tão simples para todos.

Essas posições provocam resistência. Os ativistas de TQIA+ ponderam que a luta é pela liberdade de ser e existir, e que gênero é uma expressão tão legítima quanto orientação sexual. Afirmam que, sem união, a comunidade perde força frente à sociedade e a governos que podem atacar direitos conquistados.

“A união sempre foi nossa principal arma contra a opressão.”

O debate sobre identidade: orientação sexual versus identidade de gênero


Talvez a chave do conflito esteja restrita à diferença entre orientação sexual e identidade de gênero:

  • Orientação sexual: Relaciona-se ao desejo afetivo e/ou sexual por pessoas de determinado gênero (homens, mulheres, ambos, nenhum, etc.).

  • Identidade de gênero: Diz respeito à percepção individual sobre si mesmo como homem, mulher, ambos, nenhum, ou de outro modo, independente do sexo biológico.

Segundo quem defende a separação, as pautas seriam distintas e até incompatíveis. “Um gay cisgênero não tem os mesmos desafios de uma mulher trans”, ouvimos com frequência em entrevistas realizadas por nossa equipe. O mesmo se aplica a uma pessoa intersexo ou queer.

De outro lado, os que preferem manter a união alegam que seria impossível enfrentar o preconceito e conquistar mais avanços sem incluir todas as vozes, afinal de contas, todas vivenciam formas de exclusão por motivos relacionados à sexualidade ou ao gênero.

Esse é o cerne do que se discute hoje quando alguém fala em LGBTQIA+ comunidade dividida no Brasil e em outros países.


A aliança LGB: novo movimento ou retrocesso?


Recentemente, organizações criaram a chamada Aliança LGB. Seu objetivo, dizem, é resgatar o foco da luta em torno de lésbicas, gays e bissexuais, tratando apenas de orientação sexual e deixando de lado temas de identidade de gênero.

Mas as críticas vieram fortes. Organizações tradicionais de defesa dos direitos LGBTI+ acusam a Aliança LGB de exclusão, transexclusão, transfobia, desinformação e até de alinhamento com pautas da extrema-direita.

Direitos LGBTI+, em nota recente, declarou que dividir o movimento é enfraquecer a luta coletiva. “Ao separar, vocês nos fragilizam”, disseram líderes históricos.

Importante mencionar que,grande parte das críticas parte do receio de que a fragmentação favoreça retrocessos em direitos civis, especialmente no contexto brasileiro de avanços ainda recentes e ameaças conservadoras.


Números e pesquisa: quem é quem no Brasil?


Agora, precisamos olhar para números e o que falam os dados mais recentes. Em 2023, um levantamento global realizado em 30 países perguntou à população adulta se cada pessoa se identificava como lésbica, gay ou bissexual.

O resultado? 12% da população brasileira declarou-se LGB. Um número acima da média mundial, demonstrando que o país mantém altos índices de identificação, mesmo em meio à polarização política e social. Se compararmos:

  • EUA: 8%

  • México: 7%

  • França: 7%

  • Argentina: 7%

  • Espanha: 11%

Esses dados sugerem que o sentimento de pertencimento à comunidade LGB está em crescimento, mesmo em países com históricos de conservadorismo. Em nossas análises no Bom dia, América!, vemos que o Brasil se destaca tanto em perfil de aceitação social quanto na presença de movimentos organizados.

Vale mencionar que o estudo não perguntou diretamente sobre orientação de gênero, então números sobre pessoas trans, queer, intersexo e assexuais tendem a ser menos precisos, algo que alimenta ainda mais a discussão sobre representatividade e visibilidade dentro do próprio movimento.

Contexto internacional: estamos isolados?


É interessante observar que o debate interno da comunidade sobre divisão entre LGB e TQIA+ não está isolado no Brasil. Pesquisas em outros países americanos e europeus indicam dinâmicas parecidas.

Nos EUA, por exemplo, existe também um movimento de dissidência interna, onde alguns grupos LGB pedem para retirar o “T” da sigla. Na França e na Espanha, debates acadêmicos e ativistas questionam até onde vai a extensão de identidades sob o mesmo guarda-chuva. Essa ponderação global nos mostra que a discussão trata tanto de estratégias políticas para avançar direitos quanto de divergências culturais profundas, difíceis de minimizar.


O papel das empresas, escolas e religiões


Um dos fatores que mais influenciou tanto a união quanto a fragmentação do movimento LGBTQIA+ foi a entrada de pautas de diversidade em ambientes não tradicionais, principalmente empresas, escolas e, surpreendentemente, algumas religiões.

  • Empresas: Diversas multinacionais e grandes organizações brasileiras passaram a adotar políticas internas de respeito e incentivo à diversidade sexual e de gênero. Isso garantiu não só oportunidades reais, mas também visibilidade para histórias plurais no ambiente de trabalho.

  • Escolas: Educadores e profissionais da educação começaram a debater gênero e orientação sexual de forma mais aberta, mesmo com reações conservadoras. Não foram raros conflitos, principalmente em redes públicas.

  • Religiões: Igrejas com discursos inclusivos têm atraído jovens e adultos que antes se sentiam rejeitados. Por outro lado, grupos religiosos tradicionais continuam apresentando forte resistência.

Essas esferas criaram empecilhos e oportunidades. Por um lado, favoreceram inclusão e deram espaço para novas discussões sobre orgulho, pertencimento e aceitação. Por outro, nem sempre conseguiram acompanhar as nuances, recorrendo às vezes a soluções “padrão” que não atendem questões específicas de cada letra da sigla.


O impacto nas políticas públicas e direitos civis


Se há algo comum a todos os lados do debate é que, ao longo das últimas décadas, conquistas importantes foram registradas. Casamento igualitário, direito à adoção, leis anti-discriminação e políticas de saúde específicas mudaram a paisagem social no Brasil, Argentina, México e Chile, para citar alguns exemplos analisados aqui no Bom dia, América!.

Mas, à medida que o movimento se fragmenta, há o risco de retroceder em pontos caros. Como bem alertam especialistas,dividir a sigla pode tornar a luta menos efetiva, abrindo brechas para que adversários neguem direitos sob o argumento de “não representar toda a comunidade”.

Cabe mencionar: foram justamente as mobilizações em bloco, festas, paradas, influenciadores, protestos e associações civis, que fizeram a diferença entre países com mais avanços e aqueles com retrocessos. Separar pode minar essa força, ou pelo menos desacelerar os avanços futuros.


Vozes e experiências: narrativas plurais


Como parte do nosso compromisso em trazer múltiplas perspectivas no Bom dia, América!, ouvimos ativistas, acadêmicos, jovens e lideranças das duas vertentes principais.

  • Ativista LGB, 44 anos: “Quero debater direitos das lésbicas e gays, mas sinto que a luta virou só sobre identidade de gênero. As pessoas estão ficando confusas.”

  • Membro TQIA+, 22 anos: “Existir enquanto trans ou não-binário no Brasil já é um desafio. Excluir a gente da sigla é como negar nossa humanidade.”

  • Educadora, 37 anos: “Na escola, fica difícil explicar tudo para crianças, mas tirar a vivência de pessoas trans do debate é ignorar parte essencial da nossa realidade.”

Essas falas, mesmo conflitantes, mostram um Brasil múltiplo, onde a discussão está longe do consenso.

“O futuro depende da capacidade de diálogo e respeito à diferença.”

Possíveis rumos: estamos diante da fragmentação ou só de mudanças de rota?


O que podemos esperar do futuro da comunidade LGBTQIA+ em relação a essa divisão?

  • Talvez, vejamos grupos atuando de maneira autônoma, mas mantendo alianças em temas estratégicos.

  • Podemos ver o surgimento de novas lideranças e representações, que unam causas por semelhança mas aceitem diferenças.

  • Ou, paradoxalmente, a polarização se intensifique, dividindo a atuação política e social.

Não existe ainda resposta definitiva. O que sabemos é que, como em todo movimento social vivo, mudanças fazem parte do processo. Cabe à sociedade civil, aos coletivos, empresas e governos, repensar constantemente o melhor caminho para garantir respeito e direitos humanos a todos.


Produtos e infoprodutos recomendados para se aprofundar


Se quisermos entender mais e apoiar a educação crítica sobre diversidade, selecionamos três indicações que dialogam com o tema em profundidade:


Conclusão: Um debate em movimento e um convite ao diálogo


Conversar sobre divisão dentro do movimento LGBTQIA+ é difícil, muitas vezes desconfortável, mas absolutamente necessário. Afinal, só assim avançamos. No Bom dia, América!, acreditamos que debater essas diferenças nos aproxima, não nos afasta.

O futuro da luta pela diversidade depende de diálogo permanente, respeito à pluralidade de experiências e coragem para repensar estratégias.

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Referências


BRASIL. Pesquisa global LGBT+: 12% dos brasileiros se declaram LGB. Disponível em: https://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2023/06/02/pesquisa-global-lgbt-12percent-dos-brasileiros-se-declaram-lgb.ghtml. Acesso em: 22 jun. 2024.

FRANÇA. Institut Français d’Opinion Publique. Le regard des Français sur la question LGBT. Paris: IFOP, 2023.

REDE GLOBO. Aliança LGB: entenda a polêmica e a crítica de movimentos tradicionais. Disponível em: https://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2023/07/02/alianca-lgb-entenda-a-polemica.ghtml. Acesso em: 22 jun. 2024.

QUINALHA, Renan. História do Movimento LGBT no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica, 2017.

JESUS, Jaqueline Gomes de. Transfeminismo: Teorias e Práticas. São Paulo: Metanoia, 2022.


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