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A geopolítica do continente americano: Washington, Venezuela e os desafios da soberania


Mapa do continente americano representando a geopolítica e disputas regionais
 A Venezuela no centro da geopolítica do continente americano

Introdução


O continente americano tem sido, historicamente, palco de disputas políticas, militares e econômicas que moldaram o destino de seus povos. Nos últimos anos, a Venezuela tornou-se um dos pontos mais sensíveis desse tabuleiro geopolítico. A mobilização de forças por parte de Washington, sob o pretexto de “defesa da democracia”, reacende tensões e desperta temores de intervenção militar. Esse movimento revela não apenas um embate entre Estados Unidos e Caracas, mas também uma disputa pela autodeterminação dos povos e pela soberania no continente americano.

A análise desse cenário é fundamental não apenas para compreender a realidade venezuelana, mas para refletir sobre os rumos da geopolítica do Continente Americano. Afinal, a paz mundial e a convivência entre nações passam, necessariamente, pelo respeito à soberania e pela rejeição à intervenção externa (CHOMSKY, 2019).


1. Histórico da política externa dos EUA no continente americano


Desde o século XIX, os Estados Unidos assumem um papel intervencionista no continente americano. A Doutrina Monroe, proclamada em 1823, já expressava a ideia de que a América deveria ser esfera de influência exclusiva de Washington, sintetizada na frase “América para os americanos” (MONROE, 1823).


Durante o século XX, essa visão se materializou em diversas intervenções:

  • A ocupação de países da América Central e do Caribe;

  • O patrocínio a golpes militares na América do Sul, como no Chile em 1973;

  • A influência direta na política econômica por meio do FMI e do Banco Mundial.


Segundo Galeano (2004, p. 15), “a história da América Latina é a história de suas veias abertas, sangradas pelas potências externas”. Esse padrão de intervenção é o pano de fundo para compreender o atual cenário envolvendo a Venezuela.


2. A Venezuela no centro da geopolítica regional


A Venezuela não é apenas um país latino-americano em crise: trata-se da nação com uma das maiores reservas de petróleo do mundo. Esse recurso estratégico desperta interesses globais e coloca Caracas no centro das disputas de poder.

Além da questão energética, a Venezuela consolidou laços com países como Rússia, China e Irã, desafiando a hegemonia norte-americana no continente. Para Escobar (2019), a resistência venezuelana se tornou “um símbolo da busca por autonomia no continente americano”.


Portanto, qualquer tentativa de intervenção na Venezuela transcende as fronteiras nacionais: é, em verdade, um movimento com implicações para toda a geopolítica do Continente Americano.


3. Mobilização de forças de Washington contra a Venezuela


O artigo da plataforma Outras Palavras alerta para a intensificação da presença militar norte-americana na região, destacando exercícios conjuntos e movimentações estratégicas próximas às fronteiras venezuelanas (FUSER, 2023).


Essas ações são justificadas sob a narrativa de “defesa da democracia” ou “combate ao narcotráfico”. Entretanto, analistas apontam que o verdadeiro objetivo é fragilizar o governo de Nicolás Maduro e retomar o controle sobre os recursos estratégicos do país (ELLNER, 2020).


Essa mobilização de forças gera instabilidade regional, ameaça a paz mundial e coloca em xeque o direito de autodeterminação da Venezuela, princípio consagrado na Carta das Nações Unidas (ONU, 1945).

Mapa político da América do Sul
Mapa político da América do Sul

4. Impactos para a geopolítica do continente americano


O acirramento da tensão entre Washington e Caracas reverbera em toda a América Latina. Blocos regionais como Mercosul, CELAC e UNASUL dividem-se entre apoiar a soberania venezuelana ou alinhar-se à política externa dos EUA.


De acordo com Souza (2021), “a disputa em torno da Venezuela é, antes de tudo, uma disputa pelo futuro do continente americano, entre a continuidade da hegemonia estadunidense e a construção de uma ordem multipolar”.


Esse cenário pode levar a três caminhos possíveis:

  1. Escalada militar, com risco de conflito direto.

  2. Pressão econômica contínua, mantendo a Venezuela isolada.

  3. Diálogo diplomático, no qual a região busca soluções próprias, sem a tutela externa.


5. A importância da autodeterminação e da paz mundial


Para além das questões estratégicas, a mobilização de forças contra a Venezuela traz uma reflexão mais ampla: qual o futuro da convivência no continente americano?


O princípio da autodeterminação dos povos, defendido pelo Bom Dia América Blog, é um pilar fundamental da ordem internacional. Como lembra Celso Amorim (2015, p. 87), “a soberania não é um obstáculo à paz, mas condição para que ela floresça de forma autêntica”.


Portanto, qualquer tentativa de intervenção externa não apenas ameaça a Venezuela, mas enfraquece o tecido democrático de toda a região. A paz mundial só poderá ser alcançada com respeito à soberania e diálogo entre as nações.

Conclusão


O caso venezuelano revela muito mais do que uma disputa entre Washington e Caracas: trata-se de um espelho dos desafios enfrentados pelo continente americano diante da pressão externa e da luta por soberania.


Se a América Latina deseja afirmar-se como região autônoma e pacífica, será necessário fortalecer os mecanismos de integração, resistir a intervenções militares e valorizar o diálogo diplomático.


O futuro do continente americano depende, acima de tudo, da capacidade de seus povos de defender a paz, a autodeterminação e a dignidade frente às potências externas.


Referências


AMORIM, Celso. Teerã, Ramalá e Doha: memórias da política externa ativa e altiva. São Paulo: Benvirá, 2015.

CHOMSKY, Noam. Quem manda no mundo?. São Paulo: Planeta, 2019.

ELLNER, Steve. “The Venezuelan Crisis and U.S. Intervention”. Latin American Perspectives, v. 47, n. 6, p. 12–28, 2020.

ESCOBAR, Pepe. “Venezuela and the battle for the Americas”. Asia Times, 2019. Disponível em: https://asiatimes.com/2019/02/venezuela-and-the-battle-for-the-americas/. Acesso em: 3 set. 2025.

FUSER, Igor. “Venezuela: soam tambores de guerra dos EUA”. Outras Palavras, 2023. Disponível em: https://share.google/KllF5hmBn7hN8d2tI. Acesso em: 3 set. 2025.

GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina. 41. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2004.

MONROE, James. The Monroe Doctrine. Washington, 1823.

ONU. Carta das Nações Unidas. São Francisco: ONU, 1945.

SOUZA, Amaury de. “Geopolítica da América Latina no século XXI”. Revista Brasileira de Política Internacional, v. 64, n. 2, 2021.


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